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Esquizofrenia no filme O Solista

  • Cecília Azevedo
  • 26 de mar. de 2016
  • 10 min de leitura

"É sempre altamente enriquecedor poder aceitar outra pessoa.” (Carl Rogers)


SOBRE O FILME: O filme O SOLISTA é baseado em uma história real de NATHANIEL AYERS, considerado um prodígio musical, estudante da famosa ESCOLA DE ARTES PERFORMÁTICAS JUILLIARD, de nova York, que desenvolveu ESQUIZOFRENIA, quando freqüentava o segundo semestre na escola em referência, acabando com isto como sem-teto, nas ruas do centro de Los Angeles, onde tocava VIOLINO E VIOLONCELO. O filme começa mostrando o trabalho do talentoso repórter STEVE LOPEZ, que até mesmo seu acidente de bicicleta vira uma coluna no jornal. Um dia ele ouve um som de violino, em uma praça, e como diria ele: um som que não pertence àquele ambiente, e aí ao chegar perto percebe se tratar de Nathaniel, um esquizofrênico, que toca o instrumento com apenas duas cordas, e fala o tempo todo que já estudou em Julliard, que é uma das escolas de música mais conceituadas do mundo. Uma grande reportagem estava a caminho. Já imaginou como seria a história de um provável prodígio musical que atualmente vive nas ruas?


Pois bem, ao olhar de um jornalista, parece que a esquizofrenia é uma doença da personalidade total que afeta a zona central do eu, e altera toda a estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico, representa o estereótipo do louco, isto é, um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para coma realidade reconhecida. O esquizofrênico, para a compreensão do senso comum, menospreza e perde a liberdade de escapar as suas fantasias, agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural. Então, Lopez o jornalista, escreve sua matéria, mas o destino faz com que ele tenha mais responsabilidade que gostaria com Ayres. Ele passa então, a ajudar Ayres a retomar sua carreira musical, pois nosso jornalista nunca viu alguém gostar tanto de alguma coisa quanto a paixão que ele nutre pela música. É algo incrível, mas o jornalista, dentro do seu entendimento se pergunta: Será que a mente dele suporta?

É nesta hora que parece que o filme se perde. E aí nós que assistimos a um filme como este, percebemos como a doença altera o ser humano. É possível perceber como o filme mostra um emparelhamento na genialidade de Nathaniel o músico, ao ofício de Lopez o jornalista. São dois solitários- um trocou a família pelas ruas, o outro chega a casa e não há mensagens na secretária eletrônica. Olhando através do senso comum, podemos afirmar que são dois obsecados. Um trabalha sozinho no jornal até altas horas, e o outro toca o próprio braço como se fosse um violoncelo, e esta obsessão os impede de executar qualquer outra coisa. No filme é muito óbvio, ao mostrar como Nathaniel toca as sinfonias de Beethoven de cabeça, mas não consegue terminar sentenças, enquanto Lopez escreve muito bem, mas mal consegue acertar o potinho para o teste de urina. E aí imagino que o filme mostra como Nathaniel e Lopez são SOLISTAS, porque parecem aos olhos do senso comum, seres diferentes de suas espécies. É mesmo uma contradição: No filme aparece um instrumentista que coloca a sua religião acima da música, enquanto Natanael vê na música um meio e um fim, enquanto Lopez (jornalista) resiste em meio a uma imprensa em mutação, inconformado que Lindsay Lohan ainda seja notícia, assistindo as demissões em massa de seus amigos do LA times. Como senso comum, entendo que o filme trata o jornalismo como arte para poucos, e a cidade como uma orquestra pairando som sobre as vias de Los Angeles, conclamando a todos para olhar para o KATRINA de cada dia, como os miseráveis que dormem nas ruas, mas tem cada um a sua bandeira. O filme é denso por cruzar questões de grupos aparentemente tão distantes, por meio de dois indivíduos que não deveriam se envolver muito além das entrevistas: a crise nas alturas do grande jornal e o caos de quem vive o desamparo das ruas. O filme também nos mostra como as doenças mentais são encaradas na sociedade e se misturam aos problemas sociais.


O mendigo músico, no decorrer do filme, é sem dúvida uma pessoa encantadora, e que por isto movem o interesse do Jornalista Lopez para além da sua profissão. Envolto na trágica ironia da vida de Nathaniel, Lopez parece esquecer que é jornalista, em sua vida de divorciado e solitário, e viciado em trabalho. Encontra um novo sentido, ao tentar estender o talento, a resistência a ingenuidade que Nathaniel mantém vivendo em meio ao perigo e a miséria, receoso em sair das ruas, com pânico de ser internado. Percebo o olhar que o jornalista deve ter para perceber a singularidade de uma história, mas também como um mundo pode se refletir ali. E olhando desta forma, entendo que o envolvimento do Nathaniel com Lopez não soa como antiético, e nem a motivação para Lopez querer tirar Nathaniel das ruas, como um gesto altruísta. Pois Lopez não consegue se desligar da sua fonte (Nathaniel), e deixa de ser apenas o repórter em busca de uma história, e torna-se amigo. O apego é tanto que o mendigo chega a dizer que Lopez é seu deus, que vive nas alturas de Los Angeles Times. Continuando os dois homens aprendem a comunicar-se através da música, e aí a sua amizade vai passar por momentos dolorosos, pois Lopez imagina-se capaz de convencer Nathaniel a abandonar as ruas de Los Angeles. Aos momentos de triunfo, segue-se sempre uma desilusão, mas nenhum dos dois desiste, e embora a intenção inicial de Lopez seja salvar Nathaniel, ele acaba por constatar que a sua própria vida mudou profundamente. ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA ESTUDO DE CASO - O objetivo deste trabalho é procurar entender , através da teoria de Carls Rogers, como foi a vida de Nathaniel, história real, contada através do filme O SOLISTA, que o apresenta como protagonista , mas no meu entender no decorrer da apresentação da história, percebo que ao contá-la, é possível sentir a presença de dois protagonistas, que seria Nathaniel (músico), estudante de uma das maiores escolas de artes de mundo, situada em Nova York, e que chama Jiulliard, e que acabou desenvolvendo possívelmente esquizofrenia, quando freqüentava o segundo ano na escola de artes, e resolve abandonar tudo, e viver como um sem teto nas ruas de Los Angeles, onde toca violino e violoncelo. Foi nesta etapa de sua vida que Nathaniel, se depara com Steve Lopez, um colunista do Los Angeles Times, que vive em busca de uma história incomum. Um dia como outro qualquer, não exatamente, buscando matérias, Lopez ouve na rua uma música e descobre Nathaniel, ex-músico e um dos milhares de sem teto que andam pelas ruas, que apresenta sinais que o jornalista percebe como que de um esquizofrênico, que sonha em tocar num grande concerto, que é um eterno apaixonado por Beethoven. Então Lopez, prepara uma coluna sobre a sua descoberta e recebe de um leitor como doação, um instrumento para o músico. As cenas que surgem no filme mostrando a vida nas ruas de Nathanel, são de um indivíduo vivendo seu self, nada mais do que uma Gestalt organizada num processo, isto quer dizer que Nathaniel vivendo na rua se auto regulava, e vive na sua zona de conforto, não ouvindo vozes, porque vive de uma forma muito natural, comportando-se do jeito que ele quer. mas a partir da amizade com Lopez o jornalista, Nathaniel, começa entrar em conflito e desenvolver outros comportamentos, e isto acontece porque o jornalista embora no intuito de ajudá-lo o afasta da imagem real que Nathaniel tem de si. Bem, é o começo de uma amizade que poderá mudar para sempre suas vidas, mas é necessário entender dentro da abordagem, que a relação que o jornalista começa a estabelecer com o músico, é muito racional, isto quer dizer, me relaciono com a potência, que quer dizer a potência de tocar um violoncelo quase perfeito, este é o movimento estabelecido pelo jornalista, que vai gerar um comportamento diferente no músico. No decorrer do filme é possível perceber que os dois protagonistas são solistas suas vidas são apresentadas em forma de flasbaks com o passado do músico mais por uma questão de protocolo, onde mostra o lado clínico de O SOLISTA, para nos mostrar com ciência e em detalhes como sofre uma pessoa com esquizofrenia, como é o caso de Nathaniel. O filme mostra tratar-se de dois solitários, um trocou a família pelas ruas, enquanto o outro chega em casa e não há mensagens na secretária eletrônica. São dois obcecados, pois um trabalha sozinho no jornal até altas horas, o outro toca o próprio braço, como se fosse um violoncelo, e essa obsessão os impede de tocar qualquer outra coisa.


Bem, sobre o acima exposto, entendo que não existe um social, mas existe um eu interagindo com o social, pois todo o indivíduo nasce e existe para ser livre, e todo o organismo é movido por uma tendência inerente a desenvolver todas as suas potencialidades e a desenvolvê-las de maneira a favorecer sua manutenção e enriquecimento. O que acontece é que nem sempre depende apenas dessas satisfações interiores, porque existem também situações de vivencias coletivas que estão associadas ao atendimento das necessidades dos outros indivíduos, e aí compreendo que o exercício da liberdade fica restrito a uma condição psíquica de autodeterminação que se manifesta de acordo com estímulos independentes, que seriam os comandos de vontades. Vou me abster de priorizar meu olhar para a doença, mas considero necessário falar brevemente sobre o sofrimento e o sofrente. Quem é este homem? (Nathaniel?) Quais os seus sonhos? O que o leva a sofrer? Se existe sofrimento... Quais as suas demandas para que eu possa realizar minhas reflexões a respeito?


Entendo que a dor não é a causa dos primeiros conflitos, pois entendo o sofrimento como algo inerente a condição humana, então podemos afirmar que o sofrimento é existencial, pois vivemos num mundo de mistérios, onde temos apenas a consciência da nossa finitude. Já li em algum lugar que o homem é um ser lançado ao mundo, então isto quer dizer que o homem está entregue a responsabilidade de ser num mundo que ele não escolheu, que já está dado e do qual nada se sabe, e por isto está vulnerável a todas as contingências da vida. Então posso deduzir, que está sob sua tutela escolher suas possibilidades de ser, que pode acontecer de uma forma inautêntica ou autêntica, num padrão incongruente ou congruente, com padrões de comportamento desorganizado ou organizado. Acredito que posso afirmar que: na primeira o homem encontra-se absorvido no mundo, afasta-se de si mesmo,e aí o seu poder próprio está vetado. Enquanto que na segunda o homem se dá conta da sua impropriedade, e passa a viver uma angústia, sendo esta a única possibilidade de abrir-se para si mesmo, e ir em busca do seu poder ser mais próprio. Posso compreender que o sofrimento saudável é aquele que vem da angústia, pelo fato de sermos lançado num mundo que não entendemos, que simplesmente não consegue nos abrigar, ou melhor, nos acolher. CLARICE LISPECTOR, inteligentemente fala desta capacidade mobilizadora da angústia, em um de seus trechos que diz: UMA DAS COISAS QUE APRENDI É QUE SE DEVE VIVER APESAR DE. APESAR DE, SE DEVE COMER. APESAR DE, SE DEVE AMAR. APESAR DE, SE DEVE MORRER. INCLUSIVE MUITAS VEZES, É O APESAR DE, QUE NOS EMPURRA PRA FRENTE. FOI O APESAR DE, QUE ME DEU UMA ANGÚSTIA QUE INSATISFEITA, FOI A CRIADORA DA MINHA PRÓPRIA VIDA. Na verdade sofrer, implica em devir, em destinar o vivido. (Safra, 2004 pag. 70). Nesta minha reflexão sobre o filme O solista, contextualizando com a teoria de Carl Rogers, saliento que olho e imagino Nathaniel/ Lopez, (músico-portador de esquizofrenia/ jornalista), vivendo uma relação muito além de amizade, e que pode pelo senso comum ser entendida quase como uma relação paciente/terapeuta. O filme mostra em alguns momentos que Lopez não consegue se desligar da fonte e deixa de ser apenas o repórter, em busca de uma história, e aí tornam-se amigos. O apego é tanto, que Nathaniel, chega a dizer que Lopez é seu deus, que vive nas alturas do Los Angeles Times. Ainda através do senso comum, entende-se que a esquizofrenia é uma doença da personalidade total, que afeta a zona central do eu, e altera toda a estrutura vivencial. Então, culturalmente o esquizofrênico representa o esteorótipo do louco, ou seja um indivíduo que produz grande estranheza social, devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida, agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospreza a razão, e perde a liberdade de escapar as suas fantasias. Assistindo ao filme, e observando os aspectos disfuncionais do personagem Nathaniel, é possível constatar que alguns comportamentos diferem da grande maioria dos seres humanos. É possível, que através da percepção deste olhar , eu possa identificar traços pertinentes a alguém que desenvolveu esquizofrenia. Nathaniel apresenta durante o filme dificuldade para dormir, troca o dia pela noite, consequentemente anda a noite toda, ou em alguns momentos dorme demais. Mostra indiferença aos sentimentos dos outros, possívelmente caracteriza o isolamento social, aos poucos vai per perdendo as relações sociais que mantinha, por exemplo a relação com a mãe que até então era considerada uma relação normal, em alguns momentos demonstra hiperatividade, por exemplo anda demais, toca demais, e em outros momentos aparecem como de inatividade, não fazendo absolutamente nada. Nathaniel apresenta dificuldade de concentração, pois toca Beethoven de cabeça, mas não consegue terminar sentenças, dificuldade de tomar decisões e de resolver problemas comuns, aparece em vários momentos no filme,em uma delas, não aceitar ir para a pensão, porque para o músico Nathaniel, parece que representa uma punição, ao contrário do jornalista que sente como um estímulo de potência, a potência de Nathaniel era tão abrangente aos olhos do jornalista, que não era possível entender, porque ele estaria nas ruas desperdiçando talento, então Lopez agia no sentido de eu quero estimular para garantir que a potência aconteça, mas nem sempre ela acontece. Entendo que a intenção do jornalista era ver o solista crescer, este é o foco da relação entre os dois, aí entende-se que o jornalista tinha a intenção mas o caminho não era o correto; preocupações não habituais com a religião, pois outro instrumentista que aparece no filme, coloca sua religião acima da música, e Nathaniel vê na música um meio e um fim, enfim, hostilidade, desconfiança e medos injustificáveis à nossa percepção, permeiam todo o transcorrer do filme, algumas reações exageradas a reprovações, deteriorização da higiene pessoal, no seu trânsito pelas ruas, reações emocionais não habituais ou características do indivíduo, em várias situações no decorrer do filme, rosto inexpressivo, quer dizer falta de expressões faciais, uso estranho de palavras e da construção de frases, pois Nathaniel, executa Beethoven de cabeça, as vezes afirmações irracionais abandono das atividades ususias isto quer dizer, ausência total de rotina, mudanças na personalidade, isto é, para Carl Rogers existe uma força pessoal e inata para a auto-realização, e desta forma surge o sentido do Self, para denominar a estrutura interna do indivíduo, e atribuindo desta maneira todo o protagonismo na definição e regulação desta estrutura. Desta forma o ser humano, é um ser em interação com o mundo e com os outros, mas assume sempre o protagonismo na sua construção, portanto para Carl Rogers, não há como explicar uma perspectiva do ser humano enquanto um ser único e com potencial em si.



 
 
 

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