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Uma sessão por noite

  • Cecília Azevedo
  • 26 de mar. de 2016
  • 6 min de leitura

Bem, como eu assisti todos os episódios, resolvi separar os episódios de uma semana, fazer uma síntese, porque acho muito interessante, a ida do terapeuta, ao seu terapeuta, mostrando a humanização quando ele também procura o divã.


Um psicanalista, cinco casos, uma sessão por noite. Baseada em uma série de sucesso da TV israelense, "Em Terapia" foi exibida em 43 episódios na HBO americana, de janeiro a março deste ano. Produzida pelo ator Mark Whalberg (Planeta dos Macacos, Os Infiltrados), teve muitos de seus episódios escritos e dirigidos por Rodrigo García, filho do escritor Gabriel García Márquez e diretor do filme “Coisas que Você Pode Dizer só de Olhar para Ela”, com Glenn Close e Cameron Diaz. Na série, o psicanalista Paul Winston (Gabriel Byrne) tem pacientes a semana toda. Segundo é dia de atender Laura, uma bela anestesista que atravessa uma imensa crise emocional e não sabe se termina com o namorado ou casa com ele. Às terças, ele atende Alex, um piloto arrogante que participou de uma missão caótica no Iraque, quase morreu por lá e acha que isto não o afeta. Quarta é a vez de Sophie, uma ginasta que, depois de sofrer um acidente, quer que Paul analise seu estado e ateste que ela está bem para manter sua classificação na equipe olímpica. Às quintas, o psicanalista recebe Jake e Amy, um casal que atravessa uma crise. Jake tem verdadeiros ataques de raiva e, quando Amy não lhe conta o que faz, ele imagina o pior. Mas Weston vem se tornando intolerante e suas reações podem afetar sua carreira. Por isso, às sextas é ele quem vai para o divã e faz terapia com Gina (Diane Wiest).


Nos episódios acima descritos, referentes a uma semana de exibição, foi possível perceber que mesmo apesar da pessoa procurar ajuda por que está vivendo um momento de conflito, a pessoa ao procurar ajuda considera alguns fatos da sua vida como já superados, ou que não tem nada a ver com o que acontece agora, e embora o seu terapeuta demonstre estar comprometido com o seu sigilo profissional, e ter solicitado ao seu paciente que fale de tudo o que aparecer no seu pensamento , isto é, desde o seu histórico infantil, até as intimidades da sua vida sexual, mesmo que não considere nada importante, e também o que considera importante, e aí pude perceber a RESISTÊNCIA, uma das grandes dificuldades deste tipo de tratamento, que também faz parte do processo, tão bem mostrada, em todos os dias da série, nos vários tipos de conflitos.

A segunda observação é no sentido de que o terapeuta também aparece como um representante de muitas figuras do mundo interno , isto quer dizer aquele reprimido e inconsciente, e cada vez que o analista se refere a pessoas do seu passado ou do seu presente, pode estar falando do terapeuta, que neste momento por diversos motivos, aparentemente se transforma nesta pessoa, e aí durante as sessões que assisti durante a semana, as vezes vira algo ameaçador, ou objeto de amor, ou qualquer outro ser significativo da sua vida, com as características do que dela foi registrado no inconsciente. E aí podemos configurar a transferência metodologicamente usada na Psicanálise e de uma forma sistematizada, onde eu pude constatar em todos os encontros do episódio, com pacientes diferentes e com conflitos diferentes.


Após superar a fase da resistência , e entrar num processo de transferência, aí começam as perguntas: será que isto vai me ajudar?, e só falando que isto vai resolver meus problemas? Não será que ele é jovem ou muito velho para me entender? E todo o tipo de pergunta que cada caso requeira. Neste momento, os pacientes da semana, começam a viver o processo transferencial, que é quando eles vêem o terapeuta por exemplo um pai severo, ou omisso, ou líder, ou para a mãe no outro episódio, com suas recomendações, proibições e protetora, severa ou totalmente negligente, e aí vivem estes momentos com intensa realidade, se irritando, ou procurando mais carinho e proteção. Neste momento se faz presente a REGRESSÃO. E aí entendo que tudo isto facilitado pelo analista que usa a interpretação, ou seja, formulando hipóteses do que pode estar acontecendo neste momento com o paciente, em relação com ou com ela, nos vários casos da semana, onde o histórico se apresenta como real, atual e nesse instante, mas o terapeuta também procura correlacionar estes momentos transferênciais com o passado, com a historia do paciente, e especialmente com a sua infância , e sua relação com os pais ou substitutos.E então compreendo que não poucas vezes as histórias infantis de cada um são as realmente acontecidas , e sim por diversos motivos distorcidas ou fantasiadas. E é claro que continuando a psicanálise, seu objetivo principal será ajudar a esclarecer este intricado mundo de lembranças , fantasias, imaginação, situações dramáticas reais, que aparentemente podem estar esquecidas. A partir disto posso afirmar que: O PASSADO NÃO SE ESQUECE, FICA NO INCONSCIENTE.


E a psicanálise permite repensar e sentir, desde uma nova perspectiva , nosso ser no mundo, é visível, nos episódios de cada dia da semana, porque trabalhando-se os erros, é possível ter uma compreensão mais real da vida e da conduta, pois aprende-se a rever o mundo interno, e em conseqüência o EXTERNO, que pode vir a ser mais ameno e menos ameaçador, pode também reconhecer idealizações desnecessárias, falsas ligações emocionais, a até a submissão ou desprezo por fatos, idéias ou pessoas, que para cada um dos pacientes nos diversos dias da semana, foi na realidade fonte de conflitos, e que agora entende-se bem melhor. Este momento intenso entre o terapeuta e seu paciente, vistos nos vários casos da semana, permite intensas e válidas mudanças sólidas, e o processo intra-psíquico do paciente em foco, podemos chamar de ELABORAÇÃO. Destaco que este processo não ficou muito claro em nenhum dos casos da semana, apenas estou ressaltando porque imagino o processo em terapia continuando.Não devemos esquecer que o psicanalista, é um SER HUMANO, com seus próprios problemas , conflitos e características de personalidade. Cada um de nós tem sua própria história, seus conflitos infantis, e sua conduta ( mais ou menos também conflitiva), e sua forma particular de interpretação, apto para exercer sua prática, porém não deixa de ser uma pessoa, um ser humano vulnerável, sensível, vaidoso, ambicioso, invejoso, que ama e odeia, que ainda que capacitado para a sua prática terapêutica, também sente segundo as circunstâncias carinho, afeto, rejeição, tédio frente ao que seu paciente fala, relata, apresenta, projeta nela a transferência, e se irrita fica entediado, sente empatia, e aparece muito em todos os momentos da série semanal, se angustia e sofre.


Acredito que está treinado para tudo isto, porém não poucas as vezes tem que pensar e repensar numa interpretação. Pode ser que talvez pelos seus próprios conflitos e personalidade, pode acontecer a CONTRA-TRANSFERÊNCIA, que pude verificar em um dos episódios, que é um elemento importante do tratamento psicanalítico, que quando não bem conhecido ou ignorado, pode levar a graves erros terapêuticos. Em contrapartida quando bem interpretado, pode se tornar um elemento valioso (instrumento terapêutico), que ajuda a compreender melhor o que está acontecendo em um tratamento. Podemos afirmar que existem transferências resistenciais , amor de transferência , idealização do terapeuta, e muitas outras coisas que fazem parte do tratamento, e também existem no psicanalista, que tem o recurso de corrigir procurando ajuda de seus colegas, onde inteligentemente aparece na série, o encontro do psicanalista com outro psicanalista no divã, mostrando suas fragilidades.


Sobre a série: Penso que é uma forma inteligente de vencer o preconceito de quem não acredita em terapia, pois fica difícil vender uma série pouco movimentada, onde o dialogo acontece sempre no mesmo espaço. Aí eu imagino terapia alheia, acho que por aí o seriado tomou uma enorme proporção, com sucesso pelo mundo todo.Ora, o tratamento oferecido pelo psiquiatra da série que se limita básicamente em associar um problema atual, com um trauma inconsciente, a meu ver é o padrão psicanalítico incorporado pela imensa maioria dos profissionais. Esta correspondência imaginária pode ser sinal de competência e de uma rigorosa pesquisa na construção da série, mas é, também, a sua principal limitação. Honestamente, acredito que o que se passava em consultório de psicoterapia era um dos últimos segredos que ainda escapavam do voyeurismo da SOCIEDADE ATUAL.



 
 
 

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