Neuropsicologia no cinema
- Cecília Azevedo
- 3 de jun. de 2016
- 3 min de leitura
É um filme inovador, você só entende o filme na última cena. Penso que a intenção do diretor, é mostrar que somos na verdade aquilo que lembramos, porque o filme é uma CONFUSÃO MENTAL, onde somos colocados a vivenciar o que o protagonista vive, e aí temos a consciência que é uma TORTURA não conseguir reunir dados suficientes em nossa memória. Leonardo, que é o personagem principal do filme, da mesma maneira que nós espectadores, não sabe o que se passa em cada cena, pois para ele é um mundo novo, e ele se guia pelos fatos revelados no momento, com uma única diferença, que o público ao assistir entende o que se passa em cada cena, e na cena seguinte, e o protagonista não entende nada. Além do mais, o filme nos é apresentado em situação inversa, isto é, começa pelo fim, cheio de flashbacks, para retornarmos as situações passadas, e eu considero isto de grande importância na vida, por que é uma forma de grande valia e importante para repensar e construir o tempo presente. O nosso EU, é um conjunto de memórias, que são apenas ligações sinápticas entre nossos neurônios e aí eu penso, na necessidade que o homem tem de construir as relações para firmar o seu conhecimento, que confusão quando acontece a falta de memória, seja por esquecimento, ou uma patologia mental. No filme, é como o EFEITO BORRACHA. E É INVOLUNTÁRIO. O filme nos leva a reconstruir, junto com Leonardo (protagonista), um quebra-cabeça muito complexo, na busca pela verdade, pois ele, após ser vítima de um assalto e ver sua esposa assassinada luta contra um problema de memória, para encontrar os assassinos de sua mulher. A partir do assalto, Leonardo, protagonista, passa a sofrer de uma doença que o impede de gravar na memória fatos recentes e que fazem com que ele esqueça por completo o que aconteceu minutos antes. Para não perder a continuidade da sua própria estória, Leonardo procura vários elementos que fixam o presente, para que possa recuperar no futuro. Por exemplo, as notas escritas, fotos e tatuagens, e sempre que está em dificuldade recorre a isto, porque é uma forma de GUARDAR, no período de amnésia pelo qual atravessa. Leonardo, não se orienta da memória, mas sim de fatos, e aí eu penso: quando não se tem memória, o olhar é fundamental. Quando ocorrem alterações, nos sistemas de funcionamento da memória, através de uma lesão cerebral, por, exemplo, que parece que é o que acontece com Leonardo, nos deparamos com um quadro de Amnésia, onde ocorre alteração da memória de longo prazo, incluindo a capacidade de armazenar e evocar novas informações, chamamos de memória ANTERÓGRADA, e informações anteriores ao incidente chamamos de memória RETRÓGRADA. No filme, Leonardo, esquece a memória de curto prazo, não memoriza nada, mas com o que aconteceu antes do incidente, sua memória continua retrógrada. Na amnésia anterógrada, os acontecimentos novos não são transferidos a memória de longo prazo. No filme fica claro que o protagonista, recordava todo seu passado até o momento do incidente na sua vida, depois disso não conseguia gravar ou absorver nada de novo. Nesta parte do filme eu tenho dúvida... no finalzinho do filme, aparece um flash de lembranças, não dá para saber se é real ou não. Em uma destas cenas, ele está deitado com a mulher dele, já todo tatuado, e tem um tattoo que diz: I did it- eu fiz isto, no peito como ele dizia que tatuaria quando matasse o John G. Este fragmento vem no final do filme, e ele não estava tatuado. FIQUEI CONFUSA, enfim... Acho que o protagonista, nunca tatuaria I did it, porque a razão de vida dele era a vingança. Enquanto ele estivesse em busca do assassino, teria um objetivo na vida. Será? Bem, nós que assistimos ao filme, ficamos em pé de igualdade com o personagem, pois além de não entender a situação, nem sabemos o percurso que Leonardo terá que fazer. E aí no final a gente tem a oportunidade, de compreender o TODO, e de reorganizar a narrativa, através dos flashbacks, e a gente faz isto, porque não sabemos de memória a curto prazo.

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